Nascimento de Isaac

Gn 21,1-21 – rodapé da Bíblia Ave Maria

Duas partes bem definidas dão forma a este texto. A primeira (vv. 1-8) relata o cumprimento da promessa (Gn 17,15s) com o nascimento de Isaac e recolhe as palavras de Sara(v.6s), as primeiras em toda a história do patriarca. O Escritor narra o uso patriarcal de colocar nomes nos filhos(v.3), a lei de circuncidar o menino no oitavo dia(v.4) e o oferecimento de um banquete no dia do desmame do menino(v.8), celebrado, segundo parece, como um grande acontecimento. Não se dá ênfase ao cumprimento da promessa. A ênfase principal, o foco deste relato está na segunda parte do texto (vv.9-21), na qual ficam definidos os destinos de Ismael, na realidade legítimo herdeiro de Abraão, e de Isaac, cuja a herança não é legítima, mas é legitimada. Segundo o costume, o filho da concubina podia herdar junto com o filho da escrava, ou também podia ser deserdado pelo pai. Sara pede a deserção de Ismael (v. 10). O resto é uma narração de uma ordem divina que recomenda a Abraão proceder segundo o capricho de Sara, sua mulher (v. 12). Fica estabelecido que Ismael também participará da bênção e da promessa de uma numerosa descendência, que continuará depois de Abraão por meio de Isaac(vv.13b.18). Este relato não deve ser interpretado como o do destino que terá Isaac – povo hebreu – e Ismael – ismaelitas ou árabes. Trata-se, apenas, de constatar a relação entre ambas as etnias, cuja origem se perde no tempo. O relato é um recurso literário que estabelece o momento no qual se origina o eterno antagonismo entre esse dois grupos. O mais lógico e evidente para o narrador é atribuir o assunto à decisão divina, conforme o que já temos assinalados em outros textos. A interpretação que estamos fazendo de cada uma dessas passagens revela-nos que aqui comete-se uma grave injustiça. Deus jamais poderia, por sua própria essência de amor, de misericórdia e de justiça, proporcionar semelhante transtorno contra uma mulher e uma criança. Não obstante, este texto serviu como justificação na hora de reivindicar um território concreto para o povo judeu. É preciso insistir uma vez mais que Deus não concede um território a um determinado grupo humano, ignorando a sorte e os direitos dos outros. Apelar a argumentos de tipo religioso para expulsar povos e culturas do lugar que habitam não é próprio do nosso Deus da vida e da justiça. Todo ser humano necessita de terra onde possa crescer e desenvolver-se e Deus não a nega a ninguém.

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