O Castigo de Sodoma

Gn 19, 24-29 – rodapé da Bíblia Ave Maria

Uma vez postos a salvo Ló com os seus, Sodoma e Gomorra são destruídas com o enxofre e fogo. Todo este relato, que tem como eixo central a destruição dessas cidades, é o que os especialistas denominam como “etiologia”, isto é, um relato ou uma lenda popular que procura “explicar” a origem de algum fenômeno do qual não se tem um conhecimento “científico”. É verdade que o lugar no qual se ambienta a narração é tremendamente árido e desértico. Estamos nas imediações do Mar Morto, no extremo sul no deserto de Judá, lugar que recebe a influência das contínuas emanações salinas do Mar Morto. Ali não brota erva, não existe vida e o calor é insuportável. A imaginação dos antigos criou a lenda e a enriqueceu com personagens aparentados com os antepassados do povo. Abraão, Ló e sua família. Mas o relato, ou a etiologia, também tem uma finalidade pedagógica. trata-se provavelmente de um julgamento moral que a comunidade faz contra as infrações que são consideradas graves para a vida do povo: A perversão sexual cuja a legislação positiva encontramos em Lv 18,22; 20,13; Dt 23,18s, e o descuido em relação à proteção da vida do emigrante ou estrangeiro que era preciso respeitar e amar (Lv 19,33s; 24,22; cf. Dt 10,18s, etc.). Assim, não se deve fazer uma leitura literal, isto é, que tenha existido verdadeiramente tantas cidades cujo pecado atraiu essa forma tão violenta de reação divina: Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (Ez 33,11; cf. 18,22.32). É a forma como o povo ia pouco a pouco formando sua consciência. Algo semelhante acontece com a mulher de Ló, transformada em estátua de sal só porque em sua fuga olhou para trás(v.26). Trata-se do mesmo fenômeno que o vento produz sobre os frágeis montículos de areia e sal: modela-os caprichosamente, dando a impressão, a distância, de serem pessoas estáticas, como que petrificadas. Portanto, não se deve dar em momento algum valor literal a essas narrativas, sob o risco de desvirtuar a imagem amorosa e misericordiosa de Deus, cuja preocupação fundamental é a vida, e a vida ameaçada.

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