Gn 16,1-16 – rodapé da Bíblia Ave Maria
A promessa da descendência (Gn 12, 2s; 13,16; 15, 5 ) ainda não começa a cumprir-se. Sara já não pode conceber e recorre ao costume comum daquela época, obter um filho por meio de sua escrava. Esta não é do seu povo, é uma egípcia (1, 3 ). Segundo o prescrito pela lei mosaica, “vossos escravos, homens ou mulheres, os tomareis dentre as nações que vos cercam” ( 25, 44 ), não do povo escolhido, o que nos dá a ideia de que o relato não é demasiado antigo. O que é realmente muito antiga é a relação antagônica entre israelitas e ismaelitas. Este relato prepara a oposição que historicamente existiu entre judeus e árabes. Agar, mãe de Ismael, embora rejeitada por Sara por falta de respeito, não é desprezada pelo Senhor. Para ela, como matriarca do povo ismaelita, Deus também lhe promete uma numerosa descendência (v.10), mas não existe promessa de território. Com sutileza, o redator faz com que esse povo viva à margem do território como “cavalo selvagem”, “separado de seus irmãos” (v.12), submetidos a eles, segundo a ordem dada a sua própria mãe: “volta pra tua senhora(…) e humilha-te diante dela” (v.9). Dois aspectos são muito importantes para a compreensão do episódio que contraria patentemente a atitude justa de Deus: 1) O relato, embora anuncie algo que acontecerá no futuro, e na realidade um comportamento com o fundo histórico que aprofunda suas raízes no mais remoto passado que continua no presente – tempo da redação – e vai manter-se no futuro. 2) O narrador, e com ele a comunidade dos crentes, tende a colocar na boca de Deus – atribui-lhe sua realização ou autoridade divina aprova – aquilo que eles consideram bom, benéfico e positivo para seu grupo, sem levar em consideração muitas vezes os efeitos sobre outros núcleos ou coletividades humanas. Por isso, é necessário que a leitura do texto leve em conta a noção de justiça, para que não nos equivoquemos em relação à misericórdia a ao amor de Deus.