Gn 12,10-20 – rodapé da Bíblia Ave Maria
O versículo 9 nos indicava que Abraão havia se transferido por etapas para Negueb, região ao sul do território que simbolicamente havia tomado já como sua posse. O Negueb é, de fato, a parte mais árida e estéril do território; se a isso se acrescenta uma seca, a fome não se faz esperar. Estando tão próximo do Egito, o mais prático é viajar até o país do Nilo em busca de alimentos, recurso atestado em documentos egípcios. Agora, utilizando elementos que correspondem a uma realidade histórica e a atitudes e comportamentos culturais daquela época no Oriente próximo, encontramo-nos com uma tradição sobre o patriarca e sua esposa no Egito, narração que tem outros paralelos no mesmo livro do Gênesis (cf. 20,1-18; 26,1-11), o que indica que essa tradição é conhecida por diferentes grupos que transmitem entre si histórias sobre a vida do patriarca. Pois bem, a intencionalidade do redator é ressaltar a figura “intocável” de Abraão como peça fundamental no início da história da salvação narrada. Do protagonista não se esperaria esse comportamento enganoso, que traz, como consequência, graves problemas e aflição ao faraó e à sua corte (v. 17). A reação do faraó (vv.18-20) é, se podemos dizer assim, mais exemplar do que a atitude do patriarca. Essa história de salvação começa a ser escrito por Deus entre as quedas, os fracassos e os erros de seus protagonistas. Deus não escolhe um santo ou uma santa; escolhe porque conhece a fragilidade e a fraqueza humanas e sabe que é aí que recolherá as peças do mosaico do seu procedimento salvífico no mundo.
