
Gn 10,1-32 – rodapé da Bíblia Ave Maria
Os que estão realizando o enorme trabalho de analisar criticamente a história de Israel e do mundo dão uma passo amais na busca dos verdadeiros responsáveis pelo mal na história. Agora a análise se concentra no conjunto de nações, mas, de um modo particular, nas grandes e poderosas, que com seus projetos de morte oprimiram e humilharam tantas vezes outros povos. Nota-se que as nações, das quais os israelitas as mais dolorosas lembranças, estão em relação direta com Cam, filho amaldiçoado de Noé. Não é possível atribuir um valor literal a este relato. Estamos diante de um gênero literário chamado “genealogia”, cuja intenção não é fazer um relatório historicamente verificável, mas estabelecer as ramificações de uma descendência que se multiplica no mundo com uma classificação muito particular. Nem mesmo aqui, como no caso dos filhos de Caim (Gn 4,17-27), trata-se da descendência biológica. Os nomes mencionados se referem a povos, ilhas e nações que se depreendem de um tronco comum, Noé, sinal da vida no meio de um panorama de morte, representada pelo dilúvio. Sua missão é sentido no ,mundo eram crescer, multiplicar-se, povoar a terra, administrá-la (cf. Gn 9,7), mas nunca foram fiéis a essa missão que Deus lhes havia confiado. Assim, esse gênero literário serve para delimitar e expressar o que os redatores do Pentateuco querem dizer ao “resto de Israel”: que na prática do mal no mundo, as nações, especialmente as grandes e poderosas, têm a maior responsabilidade. Note-se que os redatores não dividem o mundo em quatro partes, como se faz habitualmente, mas em três, para expressar as relações de Israel com outros povos: um terço do mundo descendente de Jafet são os povos marítimos (v. 5), distantes, desconhecidos e, portanto, neutro em relação a Israel. Outro terço é composto pelos descendentes de Cam, o filho que se fez merecedor da maldição por não haver respeitado seu pai. As relações que estabelece com a descendência de Cam, isto é, com as nações que procedem desse tronco maldito, são negativas. Aqui estão incluídos os países que mais dor e morte causaram a Israel: Babilônia, Egito, Assíria e os cananeus. Essas grandes nações também merecem ser julgada por suas responsabilidades diretas nas grandes catástrofes históricas. O outro terço do mundo está formado pelos descendentes de Sem, o semitas. São os povos do deserto que participam de um fundo histórico comum que, de um modo ou de outro, os aproxima. São povos irmãos por consanguinidade e por seu destino histórico. Esse deveria ser o critério para uma busca da paz no Oriente Próximo da atualidade, não a luta nem a exclusão do território. O número de povos e nações que descendem dos três filhos de Noé é setenta, número perfeito para a mentalidade hebraica. Não se quer dizer que o mundo e sua história sejam perfeitos; busca-se consolar e animar o povo, dizendo-lhe que, apesar das dores e das tragédias da história causadas pelo egoísmo e pela “adamacidade” dos tiranos, dos grupos de poder e das nações poderosas, apesar de tudo isso, o mundo e a história estão nas mãos de Deus. Nisso consiste a perfeição: nem a história nem o mundo escaparam das mãos de Deus.